Participação de Pilotos Capixabas no Curso de SIV

No mês de janeiro de 2016 uma equipe de intrépidos pilotos realizou um Curso de Simulação de Incidentes em Voo (SIV) na região da Lagoa Juparanã. A FCVL gostaria de parabenizar iniciativas como essa, que visam aumentar a segurança do nosso esporte. Local adequado, equipe treinada, muita experiência e muito voo livre!

Abaixo o Piloto Marjo Lemos de Baixo Guandu faz um relato do curso e de suas experiências:

…”

Faço Voo Livre há pouco mais de 05 anos… Neste tempo, cerca de 1300 horas voadas.

Me identifiquei com o estilo de voo Cross Country, o qual me dedico até hoje.

Neste tempo de voo, passei por alguns incidentes de voo, tais como

Front stall, Cascata, Assimétricas, 01 Twist…

Voos em ventaca, vales rotorizados, dias instáveis de inversão térmica,

Ventoco (brisa marinha que invade o vale do rio doce): voei literalmente para trás e acabei caindo em baixa altitude dentro de um bairro em Aimorés…

Dentre estas situações de voos e “doideiras”, a minha coluna vertebral não me deixa esquecer de 02 incidentes:

1º: Em 2012, Queda do Córrego Laranjal de Itaguaçu: a 08 metros do chão… pouso restrito por fios.

2º: Em 2014, Queda no pouso em Pancas: a 12 metros do chão… Desprendimento de uma térmica forte no momento que eu fazia a última perna pra pousar.

As 02 quedas me custaram 01 semana parado no serviço; fortes dores, tomografia, observação hospitalar…  Um grande momento de apreensão pelo receio de ter fraturado a coluna, de ter ficado paraplégico… Estas coisas!

Ao ponto de, até pouco tempo evitar de fazer  manobras básica como “fazer orelha”, com receio da vela despencar… Comecei a perceber que o pavor começou a me inibir a minha qualidade de voo; comecei a perder o prazer em voar, pelo receio de me machucar novamente!

Se fôssemos dividir o medo em graus, teríamos:

Medo controlável: sentimento que te deixa ciente dos riscos, mais não afeta as suas ações; não interfere em suas decisões e raciocínio quando submetido a uma situação de estresse elevado.

Pavor: é o medo incontrolável: você tem ciência dos riscos ao ponto deste sentimento passar a interferir em suas decisões e raciocínio quando submetido a uma situação de estresse elevado.

Janeiro 2016:

Decidi fazer um SIV, para poder entender se era possível  eu superar as minhas inibições, que surgiram depois de alguns incidentes e acidentes na vida real.

Neste final de semana (dias 15 e 16.01.2016), tive a oportunidade de fazer o meu primeiro SIV com o Maurício Braga (o Gatinho) e sua equipe.

Galera do Curso

No primeiro dia, tivemos aula teórica e “tira dúvidas”. Neste primeiro momento, percebi uns raciocínios errôneos e “vícios de postura e atitudes” que eu tinha em relação ao voo no dia a dia… E que, certamente influenciavam na minha qualidade de voo. Apesar de uma boa escola de instrução, um excelente instrutor  (Escola Nortear – Professor Tadeu Bersot), livros e vídeos que adquiri durante este tempo…Era necessário buscar “algo mais” com o intuito de vencer  os aspectos que começaram a inibir o meu prazer em voar  e na qualidade de voo.

No 2º dia, antes de irmos para a Lagoa Juparanã e realizar os voos propriamente ditos,

ainda no QG, fizemos uma série pré definida de exercícios num SIMULADOR.  Por 02 horas, eu e mais 03 colegas repetimos as execuções necessárias para cada incidente e desconfiguração do velame, a qual enfrentaríamos na aula prática na Juparanã.

O QUE É O SIV?

Eu tinha uma ideia errada sobre o SIV:

– Achava que ele só servia pra piloto que se dedicaria ao voo de acrobacias.

– Achava que seria uma experiência muito perigosa, em que eu, além de não dar  conta de fazer aos manobras, eu certamente enfrentaria lá twist, reserva… ou quem sabe, cairia dentro da vela todo enrolado nas linhas do parapente… Coisas assim, que no fundo me inibiam de fazer SIV antes… E o pior, é que eu nunca tive a curiosidade de realmente entender como realmente funcionava um SIV.

A HORA DA VERDADE:

Então fomos para a Lagoa Juparanã com o Gatinho e a sua equipe de apoio.

Atravessamos a imensa Lagoa… E eu ficava imaginando:

Caramba! Será que eu cairei no meio dela ou mais nas bordas desta Lagoa, rsrs! Ela tem uns 05 km de largura… Terei que nadar muito, rsrs!

Assim que começamos os primeiros exercícios, percebi   o quanto eu estava enganado quanto ao que era um  SIV!

Comecei a perceber que o instrutor do SIV – o Gatinho era muito profissional; e que ele estava extremamente concentrado , dedicado a cada comando executado pelos pilotos… Assim como toda a sua equipe (equipe da lancha, equipe de socorro – caso necessitasse)… Percebi que o Maurício Gatinho tinha controle absoluto das situações, cada exercício, mesmo que o aluno viesse a errar a manobra por ansiedade, adrenalina diante das reações do parapente em situações que eram novidade para cada um de nós… O Maurício Gatinho se preocupava com tudo: deste a velocidade do vento, direção, deriva, altitude pra desconectar os pilotos, altitude mínima e suficiente para o aluno executar o exercício e poder retornar para o mesmo ponto de onde havíamos decolado, tendo ainda uma boa margem de segurança, de maneira que ninguém do meu dia caiu na água.

O Gatinho e sua equipe passavam para nós pilotos o total controle e eficiência do que estavam fazendo e  qual era o único objetivo daquele trabalho: segurança acima de tudo com cada piloto. Lembrando que esta foi o 9º ano de atuação esta equipe em SIV’s (segundo Dirceu Bortolini – Equipe da Lancha).

Simulação de Incidentes em Voo

 

EXPERIÊNCIA PESSOAL:

As manobras foram executadas em grau progressivo de dificuldade.

Porém, já nas primeiras manobras que fiz, comecei a chegar a algumas conclusões:

  1. Tive a seguinte CERTEZA: Dentro do conjunto VELA + PILOTO + condições climáticas de voo, o fator mais perigoso é o PILOTO, quando o mesmo executa os COMANDOS ERRADOS para determinadas situações em que o parapente sofre desconfiguração!

Comecei a perceber que a minha vela é mais MANSA que eu pensava, rsrsr!

E olha! Quantas vezes coloquei a culpa na vela falando que “ela estava muito arisca”, rsrsr! Pelo contrário, PERIGOSO, NERVOSO era EU (o piloto)… Que muitas vezes, com  o meu “achismo” e “vícios de voo” … ATRAPALHEI a vela a me tirar do catrapo!

Comecei a rir de mim mesmo, rsrsr! Assim que terminei de sair da Espiral… E pensei: “Ehehe! A vela não desmontou não… Será que é aquela vela mesmo que vai comigo pra o Cross lá no Monjolo, Rsrsrs!?

O SIV ajudará você a descobrir o que fazer, quando… E qual a intensidade correta de comando a ser feito para determinado tipo de desconfiguração que o parapente sofre… Você perceberá que a vela é mais dócil que você pensa diante de um bom comando, diante da correta noção e técnica empregada, mesmo quando ela está dentro do catrapo “braboo”!

O SIV me ajudou a descobrir o quanto eu fui NEGLIGENTE  com o meu parapente, pois deixei de aplicar um pouco mais de intensidade de comandos;  quando interpretei que se eu aplicasse um pouco mais de intensidade eu “estolaria” a vela… Ou, quantas vezes a vela me implorou pra voar mais solta … e eu equivocadamente voei com ela  a 10 – 20 % de batoques puxados,  pensando que se eu assim não fizesse, eu estaria sujeito a um catapro?!

Quantos KM a mais eu poderia ter voado, rsrsr!

Sabe qual o legal do SIV?! É que, apesar de toda aquela adrenalina, ele é um “intensivão”  de conhecimentos práticos … E acreditem, num clima de DIVERSÃO e satisfação.

Manobras como Espiral, Fechada Assimétrica de 50 % acelerada com 01 giro completo, um Full Stall e uma negativa… quando bem assimiladas, bem executadas tecnicamente tornam-se divertidas, pois você vence  o que era “o bico papão” do seu  voo! Na verdade o maior fator de risco diante das desconfigurações da vela é você mesmo – o piloto sem conhecimento adequado… O SIV ensina você a fazer os comandos necessários para sair de um catrapo com eficiência e segurança…

A sensação ao término do SIV foi de ter “sepultado” ali na Lagoa Juparanã o PAVOR (o medo num nível fora de controle) que eu sentia antes desta experiência educativa.

Falo sinceramente! Eu estou livre para voar novamente …

Nestes 02 dias, tenho certeza que fiz um “up ground” de uns 30 % se comparado aos “70%” do que lutei pra adquirir sozinho  nos “catrapos da vida” nos últimos 03 anos.

Venci o pavor… Venci a ignorância de certos conceitos que eu nunca alcançaria, não fosse por meio do SIV.

Recomendo a todos os pilotos! Certamente a sua percepção e a qualidade de seu voo será outra!

Bons voos e excelentes pousos!

Abraço,

MARJO LEMOS